terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Uma linda opinião

A simpática Etelvina Ramos escreveu esta maravilhosa opinião, tão completa e tão bela:

«Rui, ler o teu livro QUANDO O SOL BRILHA é ter uma viagem ao mundo da dor profunda, para depois ter um terminus num apeadeiro cheio de esperança. Escreves duma maneira magistral. Utilizas as palavras dum modo mágico, porque nos arrebanha para dentro da história. Não consegui, como costumo fazer, ter lido de enfiada. Tive que interromper, pelo menos, quatro vezes para fazer uma espécie de luto. Senti tristeza imensa. Depois recomeçava. Mas, desde o início, apaixonada pelo Jardins e pelo seu gato Puças. O homem pela sua capacidade e modo de amar. Que depois da perda da sua amada entra num mundo, onde por vezes, vou com as minhas personagens. Talvez, todos os escritores. Um sítio onde não há amarras, maldade, dor ou escuridão; um sítio onde o amor continua a trilhar caminho, aumentando em intensidade em vez de estagnar, pois o encontro - o segundo! - está para breve. O Puças, por gostar de gatos e por saber que são mágicos. São os únicos que conseguem entrar nos sonhos dos humanos. Digo-o por experiência própria. Que melhor companheiro para a personagem Felismino se não um gato especial?! Se fosse um cão estaria errado. Só um bom escritor adivinha estas coisas. Em relação ao Edmundo, que deve tocar no coração de muitas mulheres leitoras, teve em mim o efeito de me levar até ti. Vi-te nele. Tive um flash, quando ele fala dos livros do Tarzan e do Sandokan, e vi o teu rosto menino, outro que não sei quem é, o Fernando Batista e também o Carlos Jorge, a entrarem na biblioteca. Eu trabalhava no Turismo, ao lado, e substituía sempre o Gustavo, nas suas baixas médicas, que foram inúmeras. Será que te lembras? Não interessa isto. Apenas, que estava ali o pequeno Edmundo. Revi-te várias vezes, durante a leitura. Como mulher casada, não posso "perdoar" o relacionamento da personagem com a Margarida, apesar de compreender que foi uma luz que ajudou no caminho duro da escuridão e lhe tornou mais doce a jornada. Porque não foi a mulher?! Mas o escritor é quem dita as regras. Não pude deixar de sofrer por ela, também. Ou seja, trilhei com aquelas personagens um percurso de dor. Ainda bem que tudo se compõe e que o final é bom e algo inesperado. Resumindo: gostei muito. Foi um dos, poucos livros, que me afectaram. Sendo uma narrativa escrita de modo tão magnífico, não posso deixar de te admirar e aguardar, ansiosamente, o próximo livro. Sendo, portanto, um livro que recomendo a leitura. Tudo que demonstra o bom que é, está expresso nestes pequenos excertos de QUANDO O SOL BRILHA, que ficaram marcados em mim: «Que a vida já não é uma longa estrada sem fim, mas antes um pequeno caminho num simples vale, entre contrafortes de grandes montanhas. Que tem de existir amor, uma qualquer forma de amor, um pretexto de alma que nos impulsione a partilhar.» «(...) que a luz da manhã é melhor do que qualquer sonho que a noite possa ter oferecido.» «(...) acordar, mesmo que ferido, é melhor do que morrer sem cicatrizes». Sublime! És um escritor que encontrou a sua alma. Rui, é um privilégio conhecer-te! Da tua leitora e fã, um abraço com carinho.»

sábado, 29 de agosto de 2015

"Quando o Sol brilha": opinião do Blogue "Bloguinhas Paradise"


http://bloguinhasparadise.blogspot.pt/2015/08/opiniao-quando-o-sol-brilha-rui.html

"Quando o Sol Brilha é sobre Edmundo, um homem simples de uma terra modesta que, como todos nós, é mais do que parece à primeira vista.

Tenho de confessar que este livro não foi uma leitura fácil. Demorei algum tempo a perceber a forma como o autor narrou os acontecimentos e a entender o seu propósito. De facto, só a partir de cerca do meio do livro é que consegui compreender a linha temporal da história. Por isso, quando pegarem neste livro, lembrem-se que há coisas que só serão compreendidas com o passar das páginas.
Começando por relatar acontecimentos felizes, a narrativa vai, progressivamente, adquirindo um teor mais pesado, algo que já estávamos à espera pelo que é relatado na sinopse. Na realidade, o autor fala e descreve estes temas de forma muito clara e profunda.
Ao longo da leitura transparece, de forma muito evidente, a enorme capacidade que Rui Conceição Silva tem de criar uma história, demonstrando saber usar eximiamente a metáfora para nos fazer sentir o que a personagem está a vivenciar.
Além do mais, relata a vida de pessoas que, apesar de imperfeitas, possuem uma capacidade enorme de perdoar e de amar. Para mim, o herói não foi a personagem principal, mas sim todas as pessoas que o rodeavam, e que fizeram com que fosse possível que este se redimisse dos erros que tinha cometido.
Esta obra aborda vários temas, como a perda,o sofrimento,a dor, o amor e a família. Não é um livro para ler calmamente ao sol. É uma história que exige atenção do leitor, que, em vários momentos, deixará certamente quem a esta a ler incomodado, mas que possuí palavras de grande beleza e maturidade.
«Que mesmo no deserto existem oásis que nos podem salvar. Mas que, para isso, é preciso que tenhamos aprendido a orientar-nos pelas estrelas.»"

quarta-feira, 20 de maio de 2015

"Quando o Sol brilha": opinião do Blogue "As Leituras da Fernanda"



«Há algo de especial em ler um livro que foi originalmente escrito na nossa língua mãe. É que não há comparação, mesmo que a tradução seja muito boa. E quando um livro está tão bem escrito como este que agora terminei, a sua leitura é mágica, toca-nos nas terminações nervosas, e quando chegamos à última página, sentimo-nos mais cheios, mais completos.
Não conheço o autor, e pelo que parece este é o seu primeiro romance. Espero que encontre mais histórias dentro de si, e que continue a escrever, dando-nos a possibilidade de o ler.
A história é simples. É a história de uma família, passada numa aldeia perdida nos confins de uma serra no tempo do outro senhor. Mas a forma como nos é contada… logo desde as primeiras palavras, sabemos que transpusemos uma porta e não podemos voltar atrás. Sabemos que temos de continuar a ler.

«Acho que vi cavalos no horizonte.»
Disse o meu pai com olhos de luz, naquele sábado tão longe dos sonhos.
Assim começa o livro.
E de imediato somos transportados para aquele lugar. À medida que as letras desfilam perante os nossos olhos, somos embalados pelo relato de uma vida, pela história de uma aldeia, pelo caminho que uma família que tem de percorrer para lidar com a perda e arranjar maneira de sobreviver. E a própria história é relato desse percurso, que nem sempre é fácil, pois um caminho cheio de pedras é sempre difícil de percorrer. Mas o autor consegue transformar a dor em esperança, por isso este é também um relato da redescoberta da esperança, do amor.

«Que a felicidade está no amor que distribuímos e que apenas recebemos amor para que o passamos redistribuir por aqueles que amamos. Porque o náufrago que chega à praia sabe que a sua vida nunca mais será igual. Que há agora um tempo diferente dentro do mundo, anos que se transformaram em instantes e futuros que se transformaram em hoje e agora. Que os sonhos já não são feitos de triunfos nem de dias ainda longínquos, mas sim da sensação de acreditar. Que as estrelas à noite já não são tão discretas como dantes, mas sim os olhos do Universo e da imensidão, pontos de luz que nos podem salvar, indicando-nos o Norte e o Sul, o Leste e o Oeste. Que a vida já não é uma estrada sem fim, mas antes um pequeno caminho num simples vale, entre contrafortes de grandes montanhas. Que tem de existir amor, uma qualquer forma de amor, um pretexto de alma que nos impulsione a partilhar. Pois o náufrago que chega à praia sabe agora que a luz da manhã é melhor do que qualquer sonho que a noite possa ter oferecido. Que acordar, mesmo ferido, é melhor do que morrer sem cicatrizes. Que mesmo no deserto existem oásis que nos podem salvar. Mas que, para isso, é preciso que tenhamos aprendido a orientar-nos pelas estrelas.»

Este livro é um hino. A uma época, à inocência e ao amor.
Espreitem a sinopse, e deixem-se envolver pela história de Edmundo, um homem simples, que amava a sua família, e que gostava de ler. Leiam o livro e deixem-se encantar com as palavras de um autor que escreve com o peso da alma na ponta da caneta…

«Dizia-se na aldeia que a madrugada libertava músicos da floresta. Que era um bosque encantado. Uma daquelas tolices que muitos acreditam. Não obstante, a floresta era generosa. Quando as giestas acordavam, deixava passar o sol educadamente, e este entrava nas ruelas da aldeia como se fosse uma espécie de salvador. Ao vê-lo, as almas dos aldeões beliscavam os corpos e diziam-lhes: «Acorda, preguiçoso, que o dia está bonito e os campos anelam a tua presença.»
(…)
Em volta da aldeia, existiam hortas bem cuidadas e muitos pastos penteados pelo vento, bosques adormecidos como cães velhos e uma ribeira que não descansava, trabalhando dia e noite a levar água.»

Absolutamente maravilhoso!»

domingo, 26 de abril de 2015

"Quando o Sol brilha": opinião do Blogue "BranMorrighan"



 «Opinião: Eu e os livros temos esta relação em que muitas das vezes são eles que me escolhem a mim e não o contrário. Por vezes até tenho um título em mente que quero ler, mas basta-me passar os olhos por outro que rapidamente a escolha fica feita. Com Quando o Sol Brilha foi mais ou menos assim. Como não é de um género literário que eu leia com frequência, deixei que chegasse a altura em que me ia sentir compelida a lê-lo e aconteceu realmente numa altura propícia, quase propositada. Se num mês perdi duas pessoas que me eram queridas, nesta obra encontrei a partilha da dor que senti com o seu protagonista, deixando assim que as emoções circulassem pelos devidos percursos.
Rui Conceição Silva não é um estreante no nosso universo literário, mas é um estreante no que ao romance diz respeito. Esta sua primeira obra pela Marcador, procede uma anterior, género fantástico, publicada pela Editorial Presença. Na altura, com "Escrito dos Ancestrais" (Campos de Odelberon), sob o pseudónimo Rodrigo McSilva, constatei logo que estávamos perante um escritor cheio de potencial, com uma narrativa estruturada, coerente, pensada e emocionante. Se por um lado o fantástico não é um género apreciado, por outro vemos agora um explodir no interesse perante este Quando o Sol Brilha. 
O Rui que me perdoe, mas acho que é necessário referir que, na minha opinião, só quem já sofreu uma grande perda consegue olhar para a morte de frente e abordá-la como ele o fez neste livro. E ele perdeu, o seu tão amado irmão há já algum tempo. E isso nota-se nas pequenas coisas, naqueles momentos em que é tão difícil preencher os vazios. 
Começamos por conhecer uma vila em tempos idos, uma família que vive dentro dos parâmetros ditos normais em que o marido é operário, a mulher cuida da casa e do jardim, e os filhotes andam na escola. O avô perdeu-se, perdeu-se para um tempo e espaço onde encontrou o seu refúgio após a perda da sua querida amada. Respira, mas são os seus cavalos que lhe despertam ânimo, cavalos esses que mais ninguém os consegue ver, só imaginar. Felismino, o filho, o operário, vai-nos relatando o presente e o passado como se polaroids nos fossem sendo mostradas com uma nostalgia saudosista. A linguagem puxa à tradicional do interior, aos diminutivos (coisa que estranhei, confesso, demasiado tempo a viver na cidade), às paisagens corriqueiras de um tempo em que ainda nem a electricidade tinha chegado às casas.
E depois vem a perda, o vazio, aquele sentimento de amputação em que sabemos que nunca mais seremos os mesmos depois daquele momento. Felismino não é excepção. Entre a bebida e a fuga da realidade, sob os braços de uma mulher, é na reflexão e no sentido de sobrevivência e amor que acaba por renascer. A acção tem um bom ritmo, a eloquência é algo que está inerente na escrita de Rui Conceição Silva e os personagens estão bem explorados e caracterizados. Nem todos iremos concordar com as opções do protagonista, eu certamente me revolvi em algumas fases, mas penso que a compreensão será transversal. Gostei.»

quinta-feira, 16 de abril de 2015

"Quando o Sol brilha": opinião do Blogue "As Leituras do Corvo"



«Edmundo é feliz no seu pequeno mundo. Na aldeia, onde todos se conhecem e conhecem as desventuras dos que os rodeiam, todos falam de Jardins, do velho que vê cavalos num horizonte onde eles não existem, o mesmo velho que olha para Edmundo e o trata por vizinho por já não o reconhecer como filho. Mas, apesar de tudo, há uma estranha tranquilidade na sua vida, no quotidiano do trabalho, do regresso a casa, das horas passadas a ler à luz de um Petromax, do amor do pai, da mulher, da irmã e dos filhos. Até que, um dia, um acidente muda tudo e as perdas começam a suceder-se. Perdido o controlo da sua vida, Edmundo terá de se reencontrar. E de descobrir que, apesar da dor, da perda e dos erros, a vida continua sempre...  
Intimista, quase introspectivo, este é um livro que, narrado pela voz do protagonista, mas sem deixar de abrir portas para a vida das outras personagens, vive tanto de emoções como de acontecimentos e, por isso, olha para a vida de uma maneira diferente. A história é, acima de tudo, a de Edmundo, mas não só. A família, os amigos, os vizinhos são igualmente importantes. E é por isso que a história parte dos pensamentos de Edmundo mas se estende ao pequeno grande mundo da aldeia e das suas gentes, reflectindo tanto a história das pessoas como a dos lugares.
Tendo isto em conta, um dos primeiros elementos a sobressair é precisamente a caracterização da vida na aldeia, naquela como em muitas outras do seu tempo. O meio pequeno onde todos se conhecem e todos se ajudam, mas onde também quase todos falam mal uns dos outros. A estranha solidariedade de olhar com benevolência os caídos, mas sem silenciar as palavras duras no momento em que eles se afastam. A censura em pleno contraste com a aceitação, a convivência amigável contra as guerras que nascem por nada. Um mundo tão pequeno, em suma, mas tão complexo que tudo o que nele existe é importante.
Mas, se o meio é importante, mais o são as pessoas. E é de Edmundo e dos seus, e do que nasce dos sentimentos que neles vivem, que surge a verdadeira alma desta história. Uma história traçada em tristeza, em nostalgia, em dor. Dor ante a perda, tristeza ante o que não volta, nostalgia ao recordar o passado no bem e no mal. Sentimentos que se definem na história nem sempre perfeita das personagens, mas que têm muito de comum com a vida de quem os lê.
O que me leva a ainda um outro ponto forte - e talvez o mais marcante - nesta leitura: a escrita. Há uma estranha harmonia no tom de quase confissão com que o autor dá voz ao seu protagonista. Um toque de poesia, definido por um conjunto de frases marcantes, que contrasta com a aparente simplicidade das vidas e do cenário, e que, assim, aproxima o leitor das personagens, dando aos mais difíceis sentimentos as palavras certas para o transmitir. E de tudo isto, emerge uma estranha beleza, triste como a perda, mas bela como a vida. E cativante. Muitíssimo cativante.
No fim, ficam acima de tudo as emoções e a memória. A memória de uma história que é tão simples e, apesar disso, tão intensa e marcante. A história de uma vida que podia ter sido a de qualquer um e que por isso cativa, surpreende e comove em todos os momentos certos. E que fica na memória, pois claro.»