segunda-feira, 11 de novembro de 2024

Bonita opinião do escritor Joaquim Jorge Carvalho, no seu blogue "Muito Mar" e no facebook

https://muitomar.blogspot.com/2024/11/arvores-tombadas-de-rui-conceicao-silva.html

Joaquim Jorge Carvalho escreveu:

«Estou sempre a ler e, quando há, na secretária, vários títulos clamando a minha atenção, gosto de, tanto quanto possível, não me desviar dos livros já encetados. Às vezes, incumpro essa útil disciplina – por exemplo, quando deito os olhos aos primeiros versos de um livro de poesia ou à primeira página de um romance e me acontece o célebre enamoramento da literatura. 

Aconteceu-me com o romance "Árvores Tombadas", de Rui Conceição Silva, um autor da minha geração, que talvez não receba, como tantos, a atenção que a sua qualidade literária justificaria. 

Contada a várias vozes, a história fundamental do romance remete-nos para um mundo antigo, rural e marcadamente português, historicamente situado no Estado Novo, palco de uma vida geralmente dura (nomeadamente no que se refere ao povo mais humilde), com a omnipresença da pobreza, do desamparo, da fome e da repressão política e policial. Num lugar povoado de tipos populares, simples no pensar e no falar, mas profundamente carregados de humanidade, surge um elemento novo, cujo olhar sobre a terra servirá, aos leitores, de guia e de testemunho: na verdade, os olhos da jovem professora Estrela, que vem da “cidade grande” para aquele pedaço de “Portugal profundo”, serão daí em diante – em grande medida – os nossos olhos. E nossos também, naturalmente, os seus assombros, encantamentos, medos, choros ou prazeres.  

É muito difícil parar de ler uma história de que, logo às primeiras páginas, nos tornamos cúmplices, familiares, íntimos. A narração, embora não disfarce a dureza e a crueldade dos factos relatados (até no vernáculo-calão eminentemente coloquial que, de quando em vez, emerge das falas das personagens), traz consigo uma espécie de melancólica doçura, como se a leitura fosse concomitante às vidas ali convocadas -  mas, atenção, tudo isto muito longe da lágrima fácil ou sentimentalona. Há neste discurso narrativo, digamos assim, para além da construção pormenorizada de um microcosmos profundamente verosímil e, aqui e ali, brutal, a amável incorporação da ternura. 

Não por acaso, aconteceu-me sentir, no final da leitura, saindo da narrativa, um perfume familiar, reconhecível, grato: era, digo-o agora, o eco formoso de Júlio Dinis, cujas histórias desde sempre me encantaram. Pergunta: que segredo há nas histórias que nos prendem, fascinam, conquistam? 

[Durante anos, combatendo o preconceito, o menosprezo ou a indiferença da universidade perante Júlio Dinis, tentei perceber que poder encantatório era aquele emanando da sua escrita – e acabei, mais ou menos fatalmente, por dedicar um doutoramento ao estudo da sua obra, em particular aos seus romances e contos. Esse estudo culminou numa tese – mais tarde, publicada pela Ed. Caleidoscópio – intitulada "Acção, Cenas e Personagens na Narrativa Dinisiana: As Pupilas do Senhor Escritor".]

Em "Árvores Tombadas", há esse poder, sim. É o tal perfume (que, à falta de melhor palavra, chamarei “dinisiano”), isto é, essa arte muito complicada de bem contar uma história. Lendo-a, parecer-nos-á talvez que, dada a fluência e leveza do discurso narrativo, não se tratará decerto de trabalho complexo por aí além; ora, a isto de tornar “fácil” o que é consabidamente “difícil”, meus amigos, chama-se talento. 

"Árvores Tombadas", de Rui Conceição Silva (Ed. Visgarolho, 2024) é um belíssimo romance, que agora celebro e recomendo.

Coimbra, 08 de Novembro de 2024.» 

quinta-feira, 24 de outubro de 2024

Bonita opinião no blogue "A Biblioteca da João"

https://abibliotecadajoao.blogspot.com/2024/10/opiniao-rui-conceicao-silva-arvores.html

Maria João Diogo escreveu:

Fico sempre feliz quando regresso a um autor que gosto muito. Mais ainda quando se trata de um autor português, como é o caso de Rui Conceição Silva.

“Árvores Tombadas” marca o seu regresso e, mais uma vez, não desilude! Há duas características nos seus livros que adoro. Primeiro, a escrita, sempre cuidada, cada frase é um deleite de ler, apreciar e sentir. Depois a história, que nos oferece um pouco do nosso Portugal rural, neste caso, dos anos 40. A caracterização daquela época, naquele espaço é deliciosa. E ainda que eu seja e tenha sido sempre uma “menina da cidade”, adoro sentir esta nostalgia (e saudade!) associada aos meus avós paternos.

Esta narrativa dá-nos a conhecer Estrela, uma jovem professora que vai dar aulas para uma aldeia do interior de Portugal. A recepção a esta nova professora não é a mais calorosa, numa época em que ser mulher e professora, ainda para mais jovem, era quase um insulto. Estrela irá enfrentar, por isso, muitas situações desagradáveis, mas a sua paixão pelo ensino e a forma como se relaciona com as crianças rapidamente as cativam.

A elas e a Ricardo, filho de uma das famílias mais abastadas da região, com ideias um tanto contraditórias da maioria. A relação entre os dois vai ser construída com base no respeito mútuo, muito bonito de assistir.

E serão eles, Estrela e Ricardo, juntamente com uma terceira voz não identificada, os narradores desta história, que formarão o retrato daquela sociedade, dos acontecimentos trágicos que assolaram a aldeia, em particular das meninas Teotónia e Ritinha. A relação destas meninas com Estrela é o ponto alto deste livro. Adorei cada doce momento!

Se algo tenho a apontar a este livro prende-se apenas com as transições de vozes, principalmente entre Estrela e Ricardo, que não achei serem muito perceptíveis e que me provocou alguma confusão na leitura, principalmente ao início quando ainda os estava a conhecer.

Este facto não tira nenhuma qualidade ao livro. Adorei esta leitura, que me voltou a oferecer momentos de leitura de qualidade e que não posso deixar de recomendar!

Bonita opinião no blogue "As Leituras da Fernanda"

https://as-leituras-da-fernanda.blogspot.com/2024/10/mais-um-livro-excecional-pela-mao-deste.html

Fernanda Carvalho escreveu:

«Mais um livro excecional pela mão deste autor que já me conquistou há alguns livros atrás.

As palavras que lhe saem da pena são pura poesia e as histórias, ecos de um passado ainda tão presente.

Alternando o narrador conforme nos viramos para ouvir este ou aquele pensamento, é uma história de desamores, tristezas e mágoas, de vidas duras no Portugal profundo dos anos 40. 

A riqueza da construção das suas personagens, faz-nos esquecer o destino, e obriga-nos a apreciar a viagem. Os acontecimentos sucedem-se, e o nosso coração reluz de nostalgia, senão por uma época, pelo menos por um lugar onde o céu era mais azul.

Foi uma leitura que me deu imenso prazer. As palavras de Rui Conceição Silva são palavras a não perder de vista.

Bem haja!»

segunda-feira, 21 de outubro de 2024

Bonita opinião no blogue, e página do Instagram, Biblioteca Mil

Mónica Mil-Homens escreveu:

Comovente, a "puxar à lágrima" e nostálgico. A beleza com que o Rui escreve já é tão natural, tão habitual que sabemos que vamos ter um romance maravilhoso mesmo antes de o lermos. Uma estória tal como tantas outras, passadas no Portugal profundo da década de 40 do século XX, com um rol de personagens que nos envolvem na narrativa desde o primeiro segundo e nos emocionam, nos fazem sentir profunda empatia, ou até diria em em algumas passagens, tristeza, por sabermos que era assim que se vivia em Portugal e que os nossos pais e avós passaram por isto (pelo menos os meus). Onde ser criança não era possível, onde a miséria e a luta constante do trabalho no campo desde tenra idade tornava as pessoas mais brutas, mais amargas e com mais demónios. Como devem calcular, existiam os ricos, para quem os pobres dos campos trabalhavam e esses senhores com posses "dominavam" toda uma aldeia, toda uma região e a palavra deles era lei, mas Estrela, Ricardo e Teotónia vão mostrar que as coisas podem ser sempre passíveis de serem mudadas e que para sermos realmente felizes, emocionalmente felizes, é preciso tão pouco. Recomendo muito esta leitura, com um enredo bem pensado, uma escrita maravilhosa e que nos faz dar graças por não termos vivido naquela época, onde até os sonhos nos queriam roubar e fazer desistir.  

sexta-feira, 11 de outubro de 2024

Bonita opinião da escritora Valetta Stein, no Facebook

Valetta escreveu:

«Meu Deus! É só isto que a minha mente grita, depois de ter lido o teu livro, porque me levou às lágrimas. Eu, com os meus 71 anos pensava que além do livro "Depois do Baile", um conto de Liev Tolstói (Leon), não haveria mais nenhum que me tocaria a alma dessa forma. Estava enganada.

Como me apeguei á Teotónia... Deus do céu! Depois todo o enredo até ao fim foi uma ânsia de retornar a reviver aquela vivência que não me é desconhecida.

Como escreveste a certa altura (pág. 100): "... uma certa solidão que se apoderava de mim, sempre que a Teotónia me parecia triste."

Foi esta solidão que me acompanhou durante todo o livro. Isto é de elevada categoria, pois só os grandes escritores tocam o seus leitores desse modo. Os leitores deixam de ser, passam a ser.

Muito obrigada por isto, até pelas lágrimas.

A todos sublinharei a tua qualidade.

Tua fã e leitora. V.»

terça-feira, 1 de outubro de 2024

Bonita opinião do leitor João, no Facebook

João Tavares escreveu:

Um misto de nostalgia, ternura, tragédia e superação. Um ótimo retrato de um povo do Portugal profundo dos anos 40, dos labirintos da vida que tanta vez é posta à prova.

Um livro que nos faz refletir, sonhar, identificando-me com alguns aspetos e situações constantes no mesmo.

Para ler mais do que uma vez, sem dúvida! 😉

Os meus parabéns Rui Conceição Silva

quarta-feira, 25 de setembro de 2024

Bonita opinião da página "Literacidades", no Facebook e no Instagram

Ludgero Cardoso escreveu:

Dizem que não se deve julgar um livro pela capa e, neste caso, concordo. Não se deixem levar por esta capa básica e com o nome da editora que é bastante cómico (com todo o respeito!). O conteúdo é bom, mas não é para toda a gente.

Conheci o livro quando mencionado como semifinalista do Prémio Oceanos de 2022. Sendo um dos prémios que mais respeito, comprei “Deste Silêncio em Mim” na primeira oportunidade.

A pobreza, a ida para a Guerra do Ultramar, a beleza da natureza e o meio rural vs meio urbano são o ponto de partida para o autor explorar a fundo dois temas: solidão e perdão. Sem querer estragar a experiência de leitura, e muito resumidamente, Rodrigo, nascido numa família pobre e criado para ser pastor, resolve mudar o seu destino. Até esse momento chegar, dá-nos uma vontade imensa de dar alento a essa pequena criança inocente que cresce rodeada de pobreza e perda. Em relação ao destino, será que vale a pena abandonar os nossos em prol de uma vida melhor? Bom, deixo-vos para descobrir!

Talvez pelo seu ritmo lento, não seja o livro mais indicado para um leitor menos experiente. Não é um livro com reviravoltas ou uma história surpreendente, mas antes um livro para se apreciar a escrita melancólica do autor, como quem sobe uma montanha e, lá no cume, observa tudo ao seu redor e respira profunda e lentamente, à semelhança do que muitos personagens fizeram. Diria que qualquer pessoa que tenha sido criada no campo e agora viva numa cidade, pode vir a gostar deste livro, porque muito provavelmente se vai identificar com algumas vivências dos personagens ou ver neles os seus avós e pais. É, claramente, uma ode à natureza e à ruralidade do nosso país!

Vou querer acompanhar o trabalho do autor e já estou de olho no seu recente romance, “Árvores Tombadas”, pois parece-me abordar também a subsistência da vida no campo.

quarta-feira, 14 de agosto de 2024

Curta mas bonita opinião da leitora Ana, no facebook

Ana Santos escreveu:

Acabadinho de ler... 

Gostei muito do amor proíbido entre o professor Joaquim e a sua Olinda 💖 em Figueiró dos Vinhos.

Só gostava de saber onde ele deixou o seu gato quando decidiu ir conhecer outros lugares, continuar a ser caminhante...

terça-feira, 6 de fevereiro de 2024

Bonita opinião da leitora Rita, no goodreads

Rita Laranjeira escreveu:

Um livro sobre um homem que passa por uma série de momentos difíceis, duros, daqueles que atiram qualquer um ao chão, e como reage a tudo o que vai acontecendo. Um livro sobre uma família, os acontecimentos bons e os acontecimentos que abalam os alicerces.

O início desta leitura foi um pouco difícil para mim, apenas precisei de tempo para me habituar à escrita. Foi apenas o início. Depois o livro envolve e só me fez querer saber mais e mais da história. Foi um livro que não me deixou indiferente aos assuntos abordados e me fez querer entrar no livro para ajudar a Lina e o Edmundo. Foi um livro que me deixou a pensar nos tempos difíceis vividos pelos nossos pais e avós.

sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

Bonita opinião da leitora Beatriz, no goodreads

Beatriz escreveu:

Sem dúvida que é um livro que me obrigou a sair da minha zona de conforto pois não é nada igual aos romances que estou habituada (ainda bem)! 
É um livro que nos põe a pensar numa primeira estância pelas frases que nos fazem refletir sobre a vida, o tempo no que realmente importa, depois sobre o nosso Portugal, de como a população vivia na miséria era só trabalho, pouca comida, já para não falar da posição da mulher que apenas tinha que obedecer ao homem (apesar de atualmente ainda há pessoas com este pensamento). Gostei muito deste livro, pelas descrições das paisagens portuguesas, por certas expressões eu já estar tão familiarizada. Apenas não dei cinco estrelas porque por vezes senti que estava monótono. 
Devo dizer que o título engana bem, não estava nada à espera, pensava que ia ser mais do mesmo. Temos de valorizar mais a literatura portuguesa.

sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

Bonita opinião do leitor Zé no Facebook

Ze Gato escreveu:

«Muito bom. Para quem não sabe o que são os "sentimentos serranos" este livro fica a ribombar na mente por muito tempo. 

Quem, como eu, é um serrano então a "cegueira" abre um novo olhar ao leitor pelos encantos da cidade. Mas sempre a ouvir o tambor a ecoar nos vales.

Uma boa oferta de Natal.»

quarta-feira, 15 de novembro de 2023

Bonita opinião da leitora Andreia, no blogue "Entre Margens"

https://andreiapmorais.blogspot.com/2023/11/alma-lusitana-deste-silencio-em-mim-rui.html

Andreia Morais escreveu:

«Quantos silêncios e quantos sonhos cabem no peito de um homem?» 

Gatilhos: Morte, Luto, Suicídio

O silêncio é uma linguagem com imensas camadas. Naquilo que não é dito, podem ser criadas feridas, ausências, dores e distância; pode florescer desentendimento e interpretações ambíguas. No livro de Rui Conceição Silva, estas noções são todas exploradas, porque todos nós temos muitos silêncios a embalar-nos.

SOLIDÃO EM TODOS OS LUGARES

Deste Silêncio em Mim conta-nos a história de Rodrigo, que nasceu para ser pastor, e da sua família. Viveu toda a sua infância numa cabana isolada na montanha, transitando entre a dor, a saudade e a melancolia, até que um acontecimento atroz o impele a partir, «a correr o mundo», ainda que isso venha a implicar perdas.

«Assim era ele, um sonhador pacificado, que ansiava sempre pelas madrugadas, mesmo que elas fossem feitas de gelo ou de poemas imprecisos»

O ritmo desta narrativa é mais lento, como se nos convidasse a parar, a desfrutar da pacatez da aldeia e da beleza mundana dos dias. Embora seja grande o contraste, porque nos parece que há falta de ambição, é importante compreender o contexto e acho que a forma como a narrativa está estruturada nos leva a isso, porque nada é apressado, porque, de repente, é como se estivéssemos na Sobreira dos Montes, a vivenciar as dificuldades daquelas pessoas e a necessidade constante de fazer pela vida; onde os sonhos são silenciados, porque é preciso pôr comida na mesa.

«E quisemos tanto o seu abraço. Um abraço sentido e redentor»

É perante um destino «que parecia certo», e sempre incentivado pelo avô, que o protagonista começa a desejar mais. Deste modo, sai da montanha e muda-se para a cidade, mas é interessante perceber que continua a sentir-se pastor, mesmo numa realidade tão distinta. Esta noção fez-me pensar na quantidade de vezes que nos sentimos deslocados, na quantidade de vezes que sentimos não pertencer a um lugar, porque isso molda-nos e, inclusive, é capaz de condicionar o nosso futuro.

«O tempo repousa onde menos esperamos»

Por outro lado, é uma história sobre família, sobre afeto e sobre amizades; é sobre a solidão que manifesta quando temos tantas pessoas à nossa volta - e acho que esta solidão é a mais dilacerante. Acompanhando este pano de fundo, temos um livro cheio de metáforas, com alguns lugares comuns, e uma escrita belíssima, que transparece bem a ruralidade do nosso país. Quando Rodrigo procura libertar-se do silêncio da serra, compreende que essa perceção não é exclusiva daquele lugar, por isso, esta obra é sobre escolhas, sobre as consequências dessas escolhas e sobre a maneira como aprendemos a geri-las. Por outro lado, é uma história sobre família, sobre afeto e sobre amizades; é sobre a solidão que se manifesta quando há tantas pessoas à nossa volta - acho que essa é a mais dilacerante. Por fim, mas não menos importante, é um livro sobre sonhos.

«Ciente desse amor, fui-me mentalizando de que a última canção nunca pode ser de saudade»

Deste Silêncio em Mim é feito de lendas, de crenças e de amor. Com um retrato intimista, relembra-nos da importância do perdão, das origens e do que é essencial. No fundo, convida-nos a revisitar a criança que fomos e a encontrar a nossa paz. Rodrigo viveu sempre a tentar reencontrar-se, por esse motivo, acho que permanece uma pergunta: mesmo que cesse o som, a comunicação, estaremos em silêncio total?

* Música para acompanhar: Pedra Filosofal, Manuel Freire *

quinta-feira, 9 de novembro de 2023

Bonita opinião da leitora Catarina, no facebook

Catarina Fernandes escreveu: 

Maravilhoso! 💝 Um livro deliciosamente escrito.

Viajei instantaneamente até à aldeia dos meus avós, consegui sentir cheiros, recordar outros tempos... Os da matança do porco, da melancia comida na horta, sentada no regaço do meu avô... Ouvi as gentes, tal e qual, com as expressões beirãs, tão típicas.

É uma história de gentes da terra, num Portugal não muito distante no tempo. 
5⭐💝

sexta-feira, 9 de junho de 2023

Bonita opinião da leitora Ana, no goodreads

Anamaria escreveu:

Gostei muito da forma como a história está contada. Senti-me próxima de Edmundo, na medida em que compreendi o seu sofrimento. A viagem que teve de realizar para se reencontrar e redefinir foi intensa e cativante.

No início a leitura arrasta-se um pouco, mas depois de ganhar ritmo, dificilmente se consegue parar.

quarta-feira, 17 de maio de 2023

Bonita opinião da leitora Mónica, no goodreads e no instagram

Mónica Mil-Homens escreveu, no seu blogue http://bibliotecamil.wordpress.com/2023/05/17/opinioes-abril-2023:

Eu nem sei bem por onde começar a escrever. Ou o que escrever. É uma leitura tão linda, tão meiga e tão dura ao mesmo tempo, tão terra a terra, tão tudo. Rodrigo o protagonista leva-nos numa maravilhosa narrativa da sua vida desde tenra idade, e ambicionando muito mais do que ser pastor numa Montanha isolada de tudo (tempos em que estudar era um luxo e desde tenra idade o destino era trabalhar para sobreviver) segue o caminho que passo a passo lhe vai sendo indicado tanto pelo avô , um sábio senhor conhecido como o Celtibero como por um misteriosos homem que encontrou na montanha a tocar um tambor de forma diferente. Como todas as crianças, cria laços na escola primária com um grupo de rapazes e vive aventuras mágicas e conhece uma rapariga que o encanta como mais nenhuma. Com apontamentos místicos e de seres ancestrais, de vida após a morte, da morte em si e da tragédia que o Ultramar trouxe a tantas famílias, sendo que Rodrigo perde o irmão mais velho para essa guerra (o meu pai e o meu tio dos quais sou cuidadora são ambos ex combatentes e voltaram vivos mas com histórias horríveis para contar e outras tantas que guardam só para eles), retirei desta narrativa que só sabemos aquilo que é realmente importante e nos faz feliz quando perdemos. E o Rodrigo, tanto quis sair da Montanha, mas na realidade a Montanha nunca saiu dele e a felicidade encontra-se onde nos sentimos em casa, onde nos sentimos em paz.
Rui Conceição Silva, OBRIGADO por esta história linda, mais uma vez a qualidade dos autores nacionais a destacar-se e queria mesmo muito que cada vez mais lhes dessem voz e o reconhecimento devido.

quinta-feira, 20 de abril de 2023

Bonita opinião da leitora Margarida, no goodreads e no instagram

Margarida Galante escreveu:

Rodrigo estava destinado a ser pastor. Frequentou a escola primária mas cedo teve que assumir o ofício que lhe foi passado pelo pai. Cresceu na montanha, numa cabana isolada, onde vivia com os pais, os irmãos e o avô Josué. Apesar da pobreza, a família era um pilar, que sofreu um abalo com a morte do filho mais velho na guerra do ultramar.

Mas Rodrigo sonhava com uma vida diferente, queria conhecer outras realidades, e era incentivado pelo avô. A morte do seu avô vai impeli-lo a trocar o silêncio da montanha pelo bulício da cidade grande, fugindo de casa e não voltando a dar notícias à sua família.

Mas afinal, o silêncio e a solidão que existem na montanha também existem na cidade repleta de gente e luzes.

Esta é uma história bonita mas triste e cheia de sofrimento. Retrata muito bem a realidade rural de Portugal nos anos anteriores ao 25 de Abril, a pobreza e as dificuldades da vida no campo, mas também a solidão e os sacrifícios daqueles que iam procurar melhores condições nas cidades. É também uma história sobre os laços que nos ligam aos outros, o amor, a amizade, a família, sobre o luto e a dor do arrependimento.

Uma escrita poética, melancólica e sensível, que gostei de saborear devagar e que me comoveu. Uma história com personagens que não vou esquecer e que me fizeram recordar histórias dos meus avós e da infância dos meus pais.

terça-feira, 18 de abril de 2023

Opinião da leitora Fátima, no goodreads

Fátima Linhares escreveu:

Depois de ter lido um livro da mesma editora, resolvi ver que mais tinham em catálogo e escolhi este Deste silêncio em mim. A história de um jovem pastor a viver com a família, praticamente isolado na montanha, pareceu-me interessante e foi-o, pelo menos no início. Gostei de ler a história do Rodrigo, uma criança que, na altura em que se inicia a ação do livro, teve a sorte de os pais o mandarem para a escola. Fez o exame da quarta classe e depois cumpriu o destino de ser pastor, mesmo não sendo isso que ele queria. A grande influência da sua vida foi o avô Josué, que lhe ensinou a magia e beleza da natureza e sempre o incentivou a ir ver do mundo. Rodrigo vai ver do mundo, mas foi aqui que este livro me perdeu um bocadinho, pois andava sempre à volta do mesmo, da maravilha da natureza, da vida de aldeia, do aproveitar o tempo que temos, do criar bons momentos com aqueles que amamos. São mensagens importantes, não há como pôr isso em causa, mas talvez seja demasiado repetitivo, pois cheguei a uma altura que só pensava "nunca mais acaba...", e isso não é bom. O nosso Rodrigo é um protagonista muito atormentado, a vida dele é sempre triste, solitária, vazia e vai viver sempre com um grande arrependimento.

Apesar de esta minha opinião não ser muito entusiasmante, este livro está bem escrito, tem uma edição cuidada e a Visgarolho é um projeto a que acho que vale a pena dar uma oportunidade. Se gostarem de livros mais introspetivos, com uma ação lenta, com uma vida menos citadina, em que a natureza é rainha, penso que esta obra é uma boa aposta.

sexta-feira, 7 de abril de 2023

Bonita opinião do leitor Paulo, no goodreads e no instagram

Paulo Rodrigues escreveu:

"Nós éramos pobres de terras, apenas possuíamos aquela velha cabana, aquele lar triste onde nasci e onde cedo aprendi a força da solidão. "
Nascido num meio rural com o destino de ser pastor Rodrigo viveu a sua infância numa velha cabana na serra com a sua família, cedo teve de aprender a viver com a dor ao perder o irmão no Ultramar .
Com uma narrativa intimista o autor dá-nos a conhecer Rodrigo, que vai perdendo os seus sonhos naquela montanha onde só a sua relação maravilhosa com o avô Josué lhe dá alguma alento. Anos mais tarde já na cidade, a solidão não deixou de o acompanhar. Este livro fala-nos de afetos amor, morte e abandono, mas também de esperança e amizade das diferenças de viver  na aldeia ou na cidade e como podemos sentir-nos tão sós numa cabana isolada  na serra como numa cidade cheia de gente .
Um livro maravilhoso, escrito de uma forma poética, com muita melancolia com muitos momentos que me  emocionaram bastante
Um livro muito bonito, com uma escrita Irrepreensível, que merece muita divulgação e destaque. Infelizmente não faz parte dos livros da moda, que os grupos das editoras grandes impingem e que levam muitos a falar maravilhas deles,com a desculpa que em portugal não se escreve bem, mas está aqui a prova que afinal há excelentes livros  no nosso cantinho, e que só precisamos estar atentos ao que se publica de bom no nosso País, não ir em modas e ler o que realmente nos apetece sem fazer fretes a ninguém. Parabéns para as pessoas da Editora Visgarolho pela coragem de apostar em autores portugueses sem receios, fazem um excelente trabalho e nós que gostamos de ler agradecemos .
Leiam, vale mesmo muito a pena...

sexta-feira, 31 de março de 2023

Bonita opinião de Mezinha Livros, no instagram

Salomé Pacheco escreveu: 

Esta história passa-se no interior de Portugal em 1883. 
Tem personagens muito interessantes e adoráveis, descrições lindas da aldeia e da natureza em Figueiró dos Vinhos. 
Dois jovens, Joaquim e Olinda que se amam apesar das dificuldades que outros á volta causam mas nada nem a distância e os anos os fazem esquecer um do outro.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

Bonita opinião de Leituras Mágicas, no instagram

Leituras Mágicas escreveu:

Classificação: 10/10 ⭐

Hoje trago-vos a review de um livro de Rui Conceição Silva.

"Deste Silência em Mim" foi-me cedido pela Visgarolho Editora (@visgarolhoeditora). Muito obrigada pela cedência do exemplar, foi um prazer colaborar convosco! Esta editora foi idealizada em ano ano de pandemia e nascida em 2021. Tem como objetivo publicar bons livros de autores de língua portuguesa. É uma editora que acarinha os seus autores, que os promove e apoia. Como podem ver, a Visgarolho, rege-se por princípios muito valiosos e, por isso, é que recomendo imenso que comprem com eles!

Nunca tinha lido nada deste autor e tenho a dizer que gostei muito da sua escrita. Escrita poética, que nos acalma a alma e toca no coração. Para não falar de que é um escritor português e vocês já sabem do quanto adoro apoiar a escrita portuguesa.

A capa deste livro é muito bonita. Simples, mas por vezes a simplicidade torna as coisas muito melhores e este é um desses casos.

É um livro com personagens que nos ficam na memória, que fala da amizade, das relações familiares, das coisas mais simples. Uma história que nos faz refletir da criança que um dia fomos.

Fiquei muito feliz por ter tido a oportunidade de ler este livro, recomendo sem dúvida a toda a gente!

Já leram este livro?

terça-feira, 13 de dezembro de 2022

Bonita opinião da leitora Mónica, no goodreads e no instagram

Mónica Cabral escreveu:

"Talvez os caminhos da vida sejam assim, feitos de boas e de más coincidências. De destinos que esperam por nós, se tivermos vontade de percorrer os caminhos tortuosos da vida e se conseguirmos contrariar as solidões em que nos afundamos. Porque sempre haverá uma luz que nos aguarda, em cada dia que nasce, apesar das sombras que trazemos no peito."

O nosso narrador, Rodrigo, vive com a família numa velha cabana isolada da aldeia onde aprende a crescer muito rápido e a ver os seus sonhos a esfumarem-se.

Através de uma narrativa intimista, Rui Conceição Silva, leva-nos até à montanha para conhecermos a infância de Rodrigo que foi duramente marcada pela morte do seu irmão mais velho Carlos na Guiné em plena Guerra do Ultramar, a relação mágica que tinha com o avô Josué que lhe ensinava a escutar os pássaros e a "escutar" o silêncio da montanha, os anos que passou na escola primária onde aprendeu a ler e a escrever, e onde se apercebeu que a leitura é a porta para novos mundos e finalmente leva-nos até ao dia em que um acontecimento extremamente traumático leva Rodrigo a virar as costas à família e à sua aldeia e partir para a cidade grande em busca de uma vida melhor .

Este é um livro sobre afectos, amizade, relações familiares, morte e sobre a enorme diferença entre a vida na aldeia e a vida na cidade e como por vezes não conseguimos apagar completamente o nosso passado e as nossas memórias, mesmo as mais dolorosas.

Deste Silêncio Em Mim tem uma escrita soberba, melancólica e muito poética que me encantou e me emocionou, um livro lindíssimo!

quinta-feira, 17 de novembro de 2022

sexta-feira, 11 de novembro de 2022

Bonita opinião da leitora Patrícia no goodreads

Patrícia Bernardo escreveu:

História sobre um grande amor que perdura no tempo, sobre a amizade dos caminhantes, dois pintores que querem descobrir a beleza de Figueiró dos Vinhos e arredores, um professor que quer espantar a solidão, um estudante que os acompanha pela camaradagem, e uma terra lindíssima.

Quanto a mim, creio que era um sonhador remediado, destinado a viver sempre insatisfeito. E talvez seja essa a sina dos sonhadores, a de viver com o medo de não viver. A de ter de coabitar com esta sina, de escutar todos os chamamentos do mundo e de não ter tempo para os seguir.”

Não é uma história com o final feliz, mas com um final com muita esperança.

Porque a vida é uma bênção, um pequeno empréstimo do Universo."

“(…) naquele momento tão simples, percebi que a vida não acaba quando nos perdemos. Ela acaba quando nos rendemos.”

Porque a mesma ponte que nos leva para longe também nos pode trazer de volta a casa.”

Classificação: *****

terça-feira, 23 de agosto de 2022

Bonita crónica de João da Silva, no jornal "Público"


LIVRO DE CABECEIRA

O vento da Estrela

Os ventos são sempre iguais e sempre diferentes (como as pessoas). O vento da serra não é igual ao vento do mar ou do rio, ao vento da planície ou do deserto, e muito menos ao da cidade. Diferenciam-se na voz, na intensidade, no cheiro, no rumo.

João da Silva

23 de Agosto de 2022, 7:56

Ao fim de meia hora de caminho, sentei-me no meio da estrada abraçado às pernas e com o queixo pousado nos joelhos. Não me cruzei com vivalma desde que comecei a caminhada a partir de Gouveia, a Princesa da Serra, em direção a Folgosinho. Sempre a subir na ida, sempre a descer no regresso. Se tudo na vida fosse assim tão certo. Fechei os olhos para ouvir o vento. À lembrança, chegaram-me as palavras de Alberto Caeiro: "Outras vezes oiço passar o vento, | E acho que só para ouvir passar o vento vale a pena ter nascido." A dada altura, senti uma presença junto a mim. Resisti a abrir os olhos, acreditando tratar-se do espírito da serra que me invadia. Respirei fundo, preenchendo-me daquele vento ímpar. Os ventos são sempre iguais e sempre diferentes (como as pessoas). O vento da serra não é igual ao vento do mar ou do rio, ao vento da planície ou do deserto, e muito menos ao da cidade. Diferenciam-se na voz, na intensidade, no cheiro, no rumo. Aproximam-se no livre-arbítrio. "O vento sopra onde quer, e ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito" (João 3:3-8).

Quando abri os olhos, um enorme cão serra da Estrela mirava-me a menos de meio metro. Chegara silencioso, certamente intrigado por ver-me imóvel no meio da estrada, e aproximou-se para me cheirar. Mantive-me quieto, sentindo-lhe também o cheiro, até que se desinteressou e seguiu estrada abaixo. Voltei a fechar os olhos. Pensei no cão e na lembrança já enraizada da sua brevíssima presença. Nunca é a duração do evento que deixa marcas.

Desde miúdo que gosto de andar ao vento, ao contrário da maioria das pessoas que conheço, que preferem apontar-lhe os defeitos. Que os tem, e muitos. Mas eu sempre preferi olhar para o seu sentido figurado: vassouradas que separam o trigo do joio, levando o supérfluo e o lixo, separando o essencial. Discutível, claro. O contrário também sucede – poucas coisas na vida são tão "pão, pão, queijo, queijo" como as subidas e as descidas de uma serra. E, por vezes, o vento leva mesmo para longe aquilo que é importante, a saúde, a alegria ou o amor, deixando o superficial, a doença, a tristeza, o desamor.

Lembro-me de gostar de correr na rua quando estava vento. "Não vás lá para fora, João, está muito vento", ralhava a minha mãe. "É por isso mesmo que vou", pensava eu, correndo contra o vento com as lágrimas a fugirem dos olhos e o cabelo penteado pela ventania. Quando me cansava, montava-me às cavalitas do vento e voava.

"Hoje, o maior receio dos pastores é o de não ter o que dar de comer às cabras e ovelhas. A seca e o fogo atacaram com força", oiço no noticiário enquanto amanho um tomate. Sabendo o que ia encontrar no ecrã, enchi-me de coragem e voltei-me para encarar um cenário de destruição que me atordoou a alma. Interroguei-me, certo de não obter resposta: "Porquê?" Já de costas voltadas para o ecrã, ouvi o lamento de um bombeiro que assistiu ao fogo atravessar uma quinta em Gonçalo, distrito da Guarda: "O vento estava muito forte e a situação descontrolou-se, não pudemos fazer nada."

Nessa quinta, para escaparem à fúria do fogo, um homem e uma mulher tiveram de mergulhar com os filhos num tanque. Miguel, um menino de 10 anos, contou na primeira pessoa o que o bombeiro viu ao longe: "Foi um momento muito difícil. Houve uma parte que eu nem consigo explicar... Estava dentro de água, com as chamas por cima de mim e bolinhas pequeninas do fogo a saltar pelos terrenos..." E naquele instante, odiei o vento e a sua rebeldia. "Pois, naquele planalto onde moravam ventos, de pouco adiantava gritar as leis dos homens, porquanto aquele era o reino das coisas que não manipulamos", diz-nos Rui Conceição Silva, em Deste silêncio em mim (2021, Visgarolho Editora), livro que calhou estar a ler quando a serra da Estrela ardeu. O vento é uma personagem secundária que percorre todo o manuscrito de Rui Conceição Silva, que nos mostra as suas facetas, feitios e peculiaridades, virtudes e defeitos, enquanto nos relata a história de Rodrigo, um rapaz nascido e criado na montanha, que sonha fugir à vida de pastor para conhecer o mundo. Através de Rodrigo e de outras personagens marcantes, descobrimos silêncios, angústias, saudade, amor e a solidão da montanha, mas recordamos também que a solidão pode estar em toda a parte, mesmo quando estamos rodeados de gente.

Refletindo nas imagens da serra queimada e tentando antecipar o que encontrarei quando regressar a Gouveia e caminhar pela serra, voltei a tirar o livro de Rui Conceição Silva da estante e folheei-o, como quem procura um amigo em busca de conselhos. E o Rui, que não conheço, falou-me assim: "Chega sempre o momento em que cada um de nós se detém e pergunta, numa hora mais triste: 'O que será o amanhã? Conseguirei suportá-lo?' E essa pergunta traz-nos sempre um medo com rosto, o nosso próprio rosto, que tenta voltar às antigas feições, quando olhava em frente sem medo do futuro. Porque há notícias assim: mais do que o presente, assustam os dias vindouros. As nuvens instalam-se em nós, ensombrando os olhares que deitamos aos amanhãs desconhecidos, que já nascem semidestruídos. E que força haverá em todos nós, que nos leva a suportar todas as adversidades? Talvez seja pelas nossas certezas, pelas palavras já conquistadas nos nossos corações. Porque, quanto mais simples nos tornarmos, menos estaremos dependentes do jogo de sorte que é a nossa vida. São as grandes expectativas que nos derrubam."

Com o livro escancarado, relembro com clareza e paixão uma fria manhã de janeiro em que caminhava pelos lameiros que ladeiam as estradas desertas entre Gouveia e Folgosinho, observando o feno a dançar com o vento que me fustigava a pele do rosto. Fecho os olhos para o sentir e aceno ao milhafre que vigia todos os meus movimentos, desenhando círculos por cima de mim. Em seguida, sorrio ao recordar a ocasião em que, distraído a olhar o horizonte, fui surpreendido pelo inesquecível som do bater de dezenas de asas de perdizes rompendo entre as giestas. Sons que ficam. Como o do vento a entrar em nós. Aquilo que percecionamos através dos olhos reforça a barreira intransponível que existe entre a nossa mente e o que é exterior a nós, que está lá fora, num espaço onde as coisas são, mas nós não somos. Quando ouvimos, participamos, imergimos numa realidade indivisível, sem fronteiras, fluida. Somos o canto dos pássaros, o latido dos cães, o quebrar das ondas na praia, a gargalhada da criança, somos tudo o que ouvimos, somos vento. Ao ouvir o vento com atenção, podemos escutar o espírito dos nossos ancestrais. O que quer que o vento leve ou traga, seja alegria ou desgraça, é a vida a acontecer. Somos nós, o universo, tudo.

"Os espíritos são como o vento, eles estão contigo onde quer que tu vás. Consegues ver o vento? Consegues segurá-lo na tua mão? Os espíritos caminham contigo, fazes parte da sua família", disse o Régulo de Tambarara, localidade do distrito de Gorongosa, em Moçambique.

Termino, propondo um desafio: Depois de ler estas derradeiras linhas, vá escutar o vento, nem que sopre apenas uma leve brisa. Feche os olhos e interrogue-se: "O que me diz?" Nada? Persista. É importante escutar o sopro do vento (escutarmo-nos). Só para ouvi-lo, vale a pena ter nascido.

sexta-feira, 19 de agosto de 2022

Bonita opinião da leitora Rita no goodreads

Rita Santos escreveu:


Este livro é dos mais bonitos que li na minha vida! 

Bem escrito com uma história tão bonita que é impossível não criar empatia por todos. 

Adorei!


segunda-feira, 15 de agosto de 2022

Uma bonita opinião, na Wook

 Ana Santos escreveu:

Uma agradável surpresa. 
Cada vez mais me convenço que temos de dar oportunidade aos bons escritores nacionais e que são quase desconhecidos. 
Fico grata à amiga que me indicou este livro.
Muito bom.

sexta-feira, 25 de março de 2022

Bonita opinião no Instagram

matinee_de_leitura escreveu: 

Confesso que não sou fã de romances. No entanto, foi com alguma alegria nostálgica que li este livro de @rui_conceicao_silva.
Embora eu seja da geração seguinte, revi-me na minha aldeia, na taberna tasca que também era mercearia, nas ruas lamacentas e até na iluminação pelo petromax (embora no meu caso apenas quando falhava a luz elétrica, ainda que muito frequentemente).
É um romance carregado de dor mas também de reencontro com a paz interior. Um sinal de esperança.
"A verdadeira liberdade existe dentro de nós e não por fora. Se decidires ser um homem livre, sê-lo-ás sempre, independentemente da tua condição."
Porque recordar também é viver, vale a pena ler...

Recomendado!

terça-feira, 21 de setembro de 2021

Bonita opinião da leitora Christine no facebook

Christine Machado escreveu:

Acabei de ler "Aprender a Recordar" e adorei!!!
Ri, chorei, passei por todas as emoções… 

Mas quando cheguei à passagem do Refilão da Arega, que se deitou na estrada ao chegar a Enchecamas, chorei de rir, talvez por imaginar bem a cena (pois eu nasci em Enchecamas e vivi la até aos 8 anos) e tenho lindas recordações dessa aldeia. 

Parabéns, felicidades e muito sucesso!

Um enorme bem-haja, Christine, em meu nome e em nome do meu saudoso irmão TóZé. Sei que ele ficou feliz com a sua mensagem, lá, algures no Universo. Obrigado, do coração!

Opinião da leitora Sara no goodreads

Sara escreveu:

Depois de ter lido "Dei o teu nome às estrelas" e adorado, este livro entrou para a minha wishlist.

Encontrei-o diversas vezes em promoção (na Presença online) e foi desta que o coloquei no carrinho para vir direto para as estantes. Assim que chegou passou à frente de todos os outros que estão por ler, pela expetativa altíssima que tinha desta leitura.

Apesar de ter ficado aquém daquilo que esperava, é um romance que aborda vários temas importantes usando como pano de fundo o interior do país na década de 70. O Edmundo, personagem principal, é uma personagem com a qual facilmente nos identificamos, no entanto, a narrativa e os temas foram explorados sem a profundidade adequada. É uma estória simples que cativa pela escrita bela, capaz de confortar quem perdeu alguém muito próximo.

Do autor recomendo o seu outro livro, que foi lançado posteriormente e que demonstra o quão a sua escrita e narrativa se desenvolveu. 

quinta-feira, 9 de setembro de 2021

Bonita opinião da leitora Margarida no facebook

Margarida Pires Teixeira escreveu:

Quebrei este silêncio em mim para, finalmente, soltar as palavras que acolhi nesta leitura solitária. Mais do que uma história marcante, por vezes dilacerante, ficam em mim as muitas viagens que inventei na minha memória, as emoções contraditórias, as reflexões e as frases. As mesmas frases com que nos tens deliciado em autênticos tributos à criatividade literária. 
Obrigada, Rui. 
Continua, por favor.

quarta-feira, 1 de setembro de 2021

Bonita opinião da leitora Christine no facebook

Christine Machado escreveu:

Leitura deste verão. Uma bela história que me levou a tempos antigos a serões repletos de risos, a uma pequena aldeia onde moravam pessoas simples mas com um coração enorme… tempos belos que não voltam mais. 

ADOREI!!! 

Obrigada por a dedicatória personalizada. Votos de muito sucesso.

segunda-feira, 23 de agosto de 2021

Linda opinião da leitora Adélia no facebook

 Adélia Freire escreveu:

Isto é uma amostra deste grande escritor! O livro, ainda é melhor! Vale a pena comprar e ler! Quanto mais se lê, mais apetece ler. Isto acontece com todos os livros que o autor escreveu. Às vezes gastamos dinheiro em coisas tão inúteis! Porque não investir nestes livros? Fazem bem à nossa inteligência emocional, à nossa aprendizagem e à nossa inteligência cognitiva. São um alimento para o espírito, para a alma e para o cérebro. Os livros são de fácil leitura, estão bem estruturados, são intensos, poderosos, surpreendentes, com um discurso coerente e são fascinantes.

Bonita opinião da leitora Sara no facebook

Sara Tavares escreveu:


Este foi dos livros que demorei mais a ler, foi saboreado, frase a frase.  Delicioso, com travo doce e amargo como é a vida e o café.  

Confesso que me caíram algumas lágrimas durante a sua leitura.  Aconselho vivamente para quem gosta de ler. 

Parabéns.

terça-feira, 17 de agosto de 2021

Uma bonita opinião do blogue de referência "O Tempo entre os meus Livros"


Temos cá bons escritores e não sabemos! Este livro foi uma grata surpresa e é prova disso! Foi-me enviado pelo autor e aguardava a sua vez na estante que é como quem diz, aguardava vontade minha. Não leio por obrigação. Quando assim é, nunca resulta e já sei que a leitura se vai arrastar. Por isso prefiro sentir este apetite e deixar que a vontade seja dona e senhora das minhas leituras. Por vezes nada leio da sinopse e nada espero. Assim, deixo-me surpreender e, neste caso, foi com muita satisfação que me  envolvi na escrita e na história narrada por este autor.  

É pela voz do narrador que, ainda em criança, nos conta como foi a sua infância no meio da serra, bastante longe da aldeia mais próxima, no Portugal de Salazar. Muito perspicaz mas também muito inocente, Rodrigo vive muito a solidão e o isolamento, mas faz-nos sorrir amiúde com as suas "descobertas" ou suposições que explicam o mundo segundo os seus olhos. Uma ironia fina, um toque de mestre numa escrita que faz o leitor sentir-se em casa mesmo quando as experiências vividas pelo pequeno narrador não correspondem às suas, nem são, tampouco, similares às recordações que possuímos. 

O retrato de Portugal dessa época está muito bem conseguido. A pouca literacidade, a pobreza extrema, a ignorância e as baixas expectativas de todo um povo estão espelhados nas palavras do autor. O "salto" para França ou a ida para uma grande cidade portuguesa na busca de uma vida melhor de tantos portugueses. O retrato de um Portugal que muitos desconhecem (e ainda bem!) que me deu muito prazer em visitar e relembrar. 

Depois, a tristeza de todo um povo quase que se pega ao leitor numa segunda parte em que essa criança é obrigada a crescer (mais depressa que o que é habitual hoje em dia) e sente-se essa melancolia nas palavras do autor.

Recomendo muitíssimo.

Terminado em 18 de Julho de 2021

Estrelas: 5* 

quinta-feira, 12 de agosto de 2021

Bonita opinião da leitora Sandra no facebook

 Sandra soares escreveu:

Já terminei a leitura mas ainda não escrevi a minha crítica. Só posso adiantar que, mais uma vez, foi uma leitura maravilhosa, com um tipo de escrita e vocabulário que nos transporta para os lugares e vivências das personagens. 

Recomendo vivamente e muito obrigada, Rui Conceição Silva. Que as madrugadas de Figueiró dos Vinhos lhe continuem a magnífica inspiração que transporta para os seus livros. 

quarta-feira, 11 de agosto de 2021

Bonita opinião da leitora Liliana no facebook

Liliana Bastos escreveu:


Porque ainda acredito no poder dos livros enquanto "bálsamos" para a nossa saúde mental, fica a sugestão...

Uma leitura que nos leva à beleza das coisas simples, genuínas e puras

terça-feira, 27 de julho de 2021

Bonita opinião da leitora Graça no facebook

Graça Alves escreveu:

Poesia em forma de prosa, que nos enche a alma de doçura, nostalgia e silêncio.

Parabéns Rui Conceição Silva!

Obrigada Visgarolho editora por dares a conhecer um livro tão bonito.

Encontram em www.visgarolho.com

segunda-feira, 19 de julho de 2021

Linda opinião da leitora Cristina no Instagram

Cristina Delgado escreveu:

Uma boa surpresa este livro! Fui completamente às cegas para esta leitura, como gosto cada vez mais de fazer. Gostei muito da escrita do Rui Conceição Silva, simples e, ao mesmo tempo, com uma pitada de poesia que não maça nada quem não é seu amante...

Muitas referências à ideologia subententida do Portugal salazarista que gostei muito de ler. Um país pobre feito de gente que se queria com pouca instrução. Uma primeira parte cheio de uma fina ironia que me fez sorrir amiúde.

Já numa segunda parte (a partir do momento em que o pequeno narrador deixa a escola), somos envolvidos por uma tristeza que se nos pega ao corpo, marcada pelas palavras do autor e que vem num crescendo até ao final.

Gostei muito!

domingo, 18 de julho de 2021

Bonita opinião do canal do YouTube "Abrir o Livro"

https://abrirolivro.com/quando-o-sol-brilha-rui-conceicao-silva/ 

«Quando o Sol Brilha é um romance de Rui Conceição Silva que nos conta a história de Edmundo, um jovem que passa pela provação da sua vida. É um livro sobre amor, sobre vida e sobre relações.

Edmundo, é um jovem que vive numa pequena aldeia do distrito de Bragança, uma aldeia pacata onde todos os habitantes se conhecem. Cuida do seu pai que vive refugiado num mundo imaginário. Felismino, o pai de Edmundo perdeu a sua mulher de uma forma inesperada e desde aí nunca mais conseguiu recuperar a alegra de viver. Desde então vive num mundo imaginário em que todos os dias fica sentado no alpendre à espera de ver os seus cavalos (imaginários). Edmundo, para além de cuidar do pai, tem a seu cargo uma família muito unida, que para além do seu pai e da sua esposa, é composta pelos seus três filhos.

Um dia, numa ida para o trabalho, Edmundo tem um acidente de viação onde acaba por partir as duas pernas. Nesse dia faz uma tempestade enorme e a sua filha mais velha acompanha a mãe na procura pelo seu paradeiro. Devido à chuva e ao frio que apanha para tentar socorrer Edmundo, a filha deste contrai pneumonia que acabará por ser fatal. Após esta tragédia a vida do nosso protagonista será muito afetada e irá mudar radicalmente. Irá refugiar-se no álcool e destruir toda a imagem e postura que tinha.

Após um período de decadência Edmundo irá ser internado numa clinica de reabilitação e criar amizade com algumas pessoas que irão fazer-lhe ver o sentido da vida e ajudá-lo a encontrar um sentido para retomar a sua rotina e o cuidado da sua família.

Foi a minha primeira experiência de leitura com este autor e fiquei rendida à história, gostei imenso das personagens e da essência desta aldeia presente na narrativa. O enredo é fluído e de fácil percepção para a maioria dos leitores. Senti, contudo, que o livro tinha três focos de atenção muito fortes e que levaram a leitura a uma oscilação de sentimentos. O primeiro referente à condição de Felismino e este mundo imaginário que ele vivia. O segundo referente ao gosto de leitura por parte de Edmundo. E um terceiro foco de atenção, muito mais explorado, referente à morte da filha de Edmundo e toda esta decadência e recuperação da personagem. Apesar disto, e admitindo que não conhecia o autor e a sua escrita gostei bastante da leitura e recomendo.

Considero que temos excelentes escritores em Portugal e que infelizmente não lhes é dada a visibilidade que mereciam para poderem mostrar o seu trabalho.

Boa leitura e boas reflexões!»

segunda-feira, 12 de julho de 2021

Linda opinião da leitora Patrícia no goodreads

Patrícia Cabrinha escreveu:

Um livro belíssimo, daqueles para se ler devagar e degustar as palavras, muitas vezes poéticas. Um livro especial e único, de uma editora também ela especial e única.

É um livro de afectos, intimista, que fica a ecoar dentro de nós. Um livro nos fala das relações familiares, da amizade, da dicotomia cidade/campo, da solidão, de nos reencontrarmos connosco próprios.

É também um retrato real do país naquela altura: o trabalho (duro) no campo de sol a sol, a solidão e o isolamento das aldeias, o analfabetismo, a pobreza extrema, a imigração para a grande cidade ou para outros países na procura dos sonhos (à custa do quê?) e a consequente desertificação do interior.

Os meus parabéns à editora Visgarolho pela coragem de assumir este projecto em tempos de pandemia e também pelo inegável amor aos (bons) livros.

Parabéns também ao Rui Conceição Silva, um autor que não conhecia, mas que vou agora seguir com atenção.

domingo, 11 de julho de 2021

Bonita opinião da leitora Graciela no facebook

Graciela Antunes escreveu:

Leitura concluída.  Foi uma bela companhia nos serões. 

Aconselho a leitura. 

Senti-me  recuar no tempo e fez-me relembrar a infância simples que tive na aldeia. A vida humilde, repleta de  sacrifícios e muito trabalho no campo das gentes daquela época.  Também  alguns que tiveram o mesmo fim do "Carlos" e outros que  foram "Rodrigos". Destes, alguns conseguiram  "a paz " depois de anos em África, Brasil e até no "termo" de Lisboa, outros nem por isso. 

Obrigada Rui Conceição Silva . Para quando o próximo? 

Agradecida.

segunda-feira, 5 de julho de 2021

Apresentação do livro "Deste Silêncio em Mim"

Como bem lembra o Diário de Aveiro, está quase aí a apresentação de "Deste silêncio em mim" no Avenida Café-Concerto. 

Apareçam para dois dedos de conversa!

quinta-feira, 1 de julho de 2021

Bonita opinião do canal do YouTube "M João Covas Livrosgosto"


Bonita opinião da poetisa Valetta no facebook

Poetisa Valetta Stein escreveu:

Adorei ler esta entrevista. Aqui aquele menino que conheço há anos e que me fez admirá-lo. Nas suas obras já tinha apreendido este seu "modo de levar a tarefa ao fim' o motivo, a sua dor... que ele toca, quando nos oferece os seus personagens, revestidos de saber e aceitação. Na sua última obra isso é tão patente. Não rejeitamos "aquelas pessoas" até as recebermos no nosso colo, como se fossem conhecidos ou de família. É este o segredo do Rui Conceição Silva, dar-nos o interior de quem vive. Ele não adoça a vida, ele dá-nos vidas (muito bem inventadas, permitam o termo), para vermos a Vida.

Admiro, para sempre, este jovem... tão adulto na dor. Como o compreendo...!

Merece o sucesso e o reconhecimento.

A ele (um amigo), muitos parabéns!

Entrevista ao Grupo "O que é PORTUGUÊS é BOM!", do Facebook

https://www.facebook.com/groups/443681989867935 

1)      O que é, para si, escrever?

É uma necessidade interior de criar e de me reinventar. Certamente idêntica às dos pintores, dos escultores, dos músicos, de todos os criadores de arte. Não é um hobby, pois causa alguma angústia e é um processo muito solitário. Mas creio que o destino de um escritor é ateimar até morrer. Ateimar nas palavras em busca de mais um livro. Será assim até ao fim.

2)      Quando percebeu que queria ser escritor?

Desde jovem que sonhava um dia escrever romances. Mas não era uma necessidade interior. Só se manifestou essa necessidade após o suicídio do meu irmão Tózé, em 2012. Quando o Sol Brilha resultou da urgência de falar da perda de alguém que amamos. Como uma espécie de absolvição ou de redenção. Eu amava muito o meu irmão, tínhamos quase a mesma idade e costumávamos dizer que éramos gémeos com catorze meses de diferença. Era o meu melhor amigo, o meu confidente. Hoje, todos os meus livros são para ele. Pois eu sei que ele está algures no silêncio. Sinto-o muitas vezes comigo. Os irmãos nunca deixam de existir.

3)      Escreve apenas pelo prazer da escrita (se depois for publicado tanto melhor) ou já com o objectivo de publicar o livro?

Escrevo, não tanto pelo prazer, mas por essa necessidade interior. E, quando escrevo, não penso na publicação. Vou construindo o rascunho ao sabor das palavras, sem saber se tem ou não valor. Só quando o termino, e deduzo que possa valer a pena ser publicado, me preocupo então em fazer uma revisão o mais séria possível, por respeito aos eventuais leitores. Nessa fase, sim, começo a pensar numa hipotética publicação. Mas, enquanto escrevo, sigo apenas essa necessidade interior de criar.

4)      Sempre que começa a escrever um novo livro, de onde surgem as ideias?

Por norma, surgem de um acontecimento simples. No “Quando o Sol Brilha”, lembro-me de ter ido ao Gerês com a minha mulher e os meus filhos e de, a certa altura, ao olhar para o horizonte, me ter convencido de que tinha avistado os garranos selvagens, que tanto queria ver. Mas foi apenas uma visão. Uma simples ilusão de óptica. Por sorte, dois dias depois, acabei por conseguir vê-los e ficar maravilhado. Mas fixei essa ideia, a de ter visto primeiro os cavalos na minha imaginação. E daí o velhote do meu livro, que via cavalos que mais ninguém via. No “Dei o Teu Nome às Estrelas”, tudo começou quando li um artigo, que falava dos quadros desaparecidos do pintor José Malhoa. E imaginei um quadro que ele tivesse pintado e que se tivesse perdido no tempo. Depois, como ele viveu cinquenta anos aqui em Figueiró, onde inclusive morreu, percebi que era sobre isso que queria falar. Dele e da sua amizade com Manuel Henrique Pinto, uma amizade quase lendária na minha terra, neste confim do mundo, de infinita beleza e triste. No “Deste Silêncio em Mim” tudo começou quando vi um vídeo de um grande amigo meu, tocando tambor para a montanha. Sozinho, tocando para os ancestrais, sabendo que eles o escutavam. Creio que isso é um bem inestimável, saber que Deus está em tudo o que existe e que a morte não é o fim. Que a alma é apenas energia condensada, que se liberta quando morremos, para se fundir com o Universo. E esse panteísmo fascina-me, o sermos partes de um todo universal, presente na natureza e em todas as formas de vida. Nesse dia, onde outros viram um vídeo, eu vi um possível livro.

5)      Descreva-nos, por favor, um pouco o seu processo de escrita.

Confesso que é um pouco lento. Infelizmente, nunca senti um “cataclismo da alma”, como o que atacou Gabriel Garcia Marquez antes de escrever o Cem Anos de Solidão. Não tenho esse dom. Sei que nunca o terei. Sou apenas uma pequena migalha na Literatura, que tem de trabalhar muito mentalmente, para construir textos que justifiquem a eventual publicação do que escreve. Daí que, até agora, só tenha publicado livros de três em três anos. Normalmente, escrevo à noite, quando o silêncio é mais abundante. Tenho a sorte de viver numa aldeia, que me proporciona essa tranquilidade. Mas o meu processo de escrita é realmente lento. O primeiro capítulo é sempre uma luta. Escrevo-o e reescrevo-o várias vezes. Por vezes, deixo-o mesmo para mais tarde, e dou por mim a escrever o segundo, terceiro, quarto capítulo. Mas eu creio que o mais importante é irmos escrevendo. E encararmos cada capítulo como parte de um todo.

6)      Faz planos antes de começar a escrever um livro?

Planos escritos ou esquematizados, não. Mentalmente, sim, um pouco. Mas já sei que, a certa altura do rascunho, as personagens vão para onde querem. E eu gosto disso, de o rascunho ir para onde tem de ir. A única coisa que respeito é a mensagem base. Acho que isso é fundamental. Mas gosto das ideias que vão surgindo. Do não estar fechado em ideias estanques.

7)      Quanto tempo leva a escrever um livro?

Cerca de sete-oito meses. Depois, mais três ou quatro a trabalhá-lo. Apesar de já ter 58 anos, não tenho pressa. Não sinto essa sofreguidão de ver livros publicados. Por exemplo, agora estou de volta de um rascunho, e passo dias a pensar mais nele do que a escrevê-lo. Apesar de já ter partes escritas, ainda estou a tentar integrar-me naquele espaço, naquele tempo. O “estar lá”, e viver como que uma vida paralela, faz-me andar nas ruas distraído. Acho que a minha família e as pessoas da minha terra já estão habituadas a ver-me assim, a pensar num rascunho e com a cabeça no ar.

8)      Quando a história se desvia do plano inicial, pode obrigar a rever e reescrever partes. É mais difícil reescrever ou escrever pela primeira vez?

É mais difícil escrever pela primeira vez. Criar será sempre mais difícil do que aprimorar. Talvez por isso, reescrever certas partes dá-me até algum prazer, como se fosse um pintor retocando um quadro. Mas esse reescrever é também uma oportunidade de reflectir sobre partes do texto, tendo sempre presente que, por vezes, é preciso apagar muito do que se escreve. Que isso faz parte do processo.

9)      Sente que as personagens lideram o processo de escrita? Ou é da total responsabilidade do autor?

Como já disse anteriormente, as personagens, a certa altura, parecem soltar-se. Pode parecer estranho para quem não lê, ou lê pouco. Mas, para os leitores que leem muito, esta é uma verdade que facilmente aceitam. Às vezes, até parece que certa personagem contradiz o que dela se escreveu anteriormente. Mas as personagens são como nós, que também mudamos consoante a vida. E, nestes meus cinquenta e oito anos, já vi muita gente forte que se perdeu, e muita gente frágil que se agigantou. Na verdade, só sendo postos à prova percebemos a nossa força ou as nossas fraquezas. Assim são, muitas vezes, as personagens dos livros.

10)   Vamos ter livro novo? Se sim, para breve?

Para qualquer escritor, há sempre um manuscrito que se está a escrever. Mas escrever não significa necessariamente publicar. Sobretudo no meu caso, que não sei o que é ter um best-seller. Não tenho essa garantia, esse horizonte. Ainda assim, só tentarei publicar um novo livro se estiver satisfeito com o rascunho. E sei que, mesmo após a sua conclusão, dependerei muito da mestria de quem o vai editar. Por exemplo, o ”Deste silêncio em Mim” foi decisivamente melhorado pelo Rui Miguel Almeida, editor da Visgarolho. Além de um incrível leitor e de um grande escritor, o Rui é um extraordinário editor/revisor. Sem ele, o livro não teria a mesma qualidade.

Mas não, não tenho prazo para um novo livro. Acontecerá quando tiver de acontecer.

11)   Quais são os autores que o inspiram?

Muitos. Mas posso indicar alguns. Como Gabriel Garcia Marquez. Cem Anos de Solidão e Amor nos Tempos de Cólera exercem um grande fascínio sobre mim. Grande parte dos seus livros, bem como Llano em Chamas e Pedro Páramo, de Juan Rulfo, percursor do realismo mágico, são dos que mais reli até hoje. Gosto também muito de Luis Sepúlveda e de Primo Levi. Se Isto é um Homem foi dos livros que mais me marcou até hoje, por todas as atrocidades que o ser humano pode fazer ao seu semelhante. Noutro registo, admiro sobremaneira o Tolkien, por todo o legendarium que criou, desde o Silmarillion até ao Senhor dos Anéis. Dos autores portugueses, os que mais admiro são Miguel Torga, Camilo Castelo Branco, Almeida Garrett, José Saramago, Maria Judite de Carvalho, Alves Redol e Eça de Queirós. E tenho um carinho especial por Júlio Dinis, pois foi o primeiro autor português que “conheci” na minha juventude, e a quem gosto sempre de voltar. Dos contemporâneos, admiro muito o Valter Hugo Mãe e o José Luís Peixoto. E estou agora a descobrir a Célia Correia Loureiro, que acho que vai ter um grande futuro. Mas ficam muitos por indicar, o que é sempre injusto. Ademais, também gosto de outras formas de literatura. Como a banda desenhada, por exemplo. Sou um grande fã do René Goscinny, co-autor do Astérix e do Lucky Luke. Adoro aquele tipo de humor.

12)   O que gosta de fazer quando não está a escrever?

Ler, passear, ver filmes e desporto na televisão, visitar os meus pais, ir à Biblioteca Municipal. E adoro estar com a minha mulher e com os meus filhos. Falamos e rimo-nos muito. Mas a maior maravilha da minha vida é brincar com os meus netos.

13)   O que é que os livros (os seus e os dos outros autores) lhe dão?

Dão-me novos mundos e a possibilidade de viver mil vidas. O prémio de me maravilhar com frases incríveis e de poder ler histórias fascinantes. A ventura de perceber novas maneiras de pensar e a possibilidade de descobrir outras formas de ver o mundo e a vida. No maravilhoso filme Shadowlands, sobre C.S. Lewis, há nele uma frase muito bonita: “Lemos para sabermos que não estamos sozinhos”. Um livro é sempre uma boa companhia.

14)   Enquanto leitor, qual o seu género favorito?

Gosto, sobretudo, de romances, de memórias e de biografias. Mas também gosto de poesia, sobretudo a de Eugénio de Andrade e a de Sophia de Mello Breyner. Creio que, sem me aperceber, todos os poemas que li desde os meus catorze-quinze anos, me ajudaram a ter uma espécie de prosa poética. Dos muitos géneros que existem, confesso que não sou grande fã de terror e de suspense.

15)   Escreveria um livro de um género fora da sua zona de conforto? Um livro de ficção cientifica, por exemplo?

A meu ver, e no que concerne especificamente à escrita, ficar na zona de conforto é algo natural. Todos passamos anos, por vezes décadas, a criar o nosso estilo e a nossa forma de estar e, abdicar disso, pode não ser benéfico. Hoje em dia, fala-se da zona de conforto como se fosse uma coisa má ou impeditiva, como uma espécie de fraqueza. Mas, se estamos bem e somos felizes assim, para quê mudar? Nem todas as mudanças são salutares. No meu caso, gosto do que escrevo. Continuar é o meu caminho. Mas compreendo que muitos autores precisem de novos desafios e de novos horizontes. Admiro-os por isso. Mas, admirar uma pessoa, não significa necessariamente que queiramos ser como ela.  

16)   Como é que os seus familiares, amigos e colegas de trabalho reagem a esta sua faceta de escritor?

Para os amigos, acho que sou o cromo que escreve livros. Mas já não estranham. Sabem que faz parte de mim, da mesma maneira que o meu jeito tímido e meio trapalhão. Para a minha família, eu sou apenas o Rui. Eles sabem que o facto de escrever livros não é o mais importante para mim. Que essa não é a melhor parte de mim. Na verdade, tento apenas ser boa pessoa e ultrapassar os limites em que nasci. Os meus avós eram lavradores e não sabiam ler. O meu pai foi um simples operário e a minha mãe funcionária dos Correios. Pela lógica, eu nunca seria escritor. Mas, tudo o que eles me ensinaram, com a sua sabedoria simples e repleta de amor triste, é que fez de mim o que sou. Hoje, apercebo-me de que toda aquela ternura e tristeza desaguam agora nos meus livros.

17)   Para finalizar, fale-nos um pouco dos seus livros publicados. Qual é o seu favorito? Qual foi mais difícil de escrever?

Acho que não tenho preferências. Todos ocupam um lugar especial no meu peito. Talvez o mais difícil de escrever tenha sido o Quando o Sol Brilha. Era o primeiro romance e ainda procurava a minha voz. Espero tê-la encontrado. 

·      Como nota final, quero agradecer-vos, Maria João Covas e Maria João Diogo, por esta entrevista e por ser o autor do mês no vosso grupo. É uma honra muito grande. Sou uma pessoa simples, e gestos como estes agigantam-se dentro de mim como lendas inesquecíveis. E agradecer tudo o que têm feito pela Literatura e pelos nossos autores. São pessoas como vós, que me fazem acreditar na bondade e na generosidade do ser humano. Que valerá sempre a pena investir num abraço, como este que vos deixo.